
Afinal, como saber se o que você está sentindo é tristeza ou depressão?
Neste post, vamos conversar um pouco sobre a distinção entre tristeza e depressão, sendo esta última condição que requer atenção e tratamento adequado.
Então, vamos lá?
A depressão ganhou grande visibilidade nas últimas décadas e entrou para nossa linguagem popular e cotidiana.
Por um lado, há de positivo o fato de que falar sobre a depressão pode ajudar a minimizar o estigma e o preconceito a respeito do sofrimento psicológico.
Por outro, vemos equívocos no emprego corriqueiro e excessivo do termo “depressão”.
Talvez você já tenha escutado por aí expressões como: “Hoje eu acordei com depressão” ou “Isso me dá uma depressão!”.
Nota-se que, em alguns casos, na linguagem popular, a palavra depressão tem sido usada, incorretamente, como sinônimo de tristeza.

Então, é importante entendermos a diferença entre estes termos tão usados no cotidiano.
Mas você pode se perguntar: qual o problema de se equiparar tristeza e depressão?
Um deles é cairmos no que se tem chamado de medicalização da vida, a tendência em se tratar como um problema de saúde o que, na verdade, consiste em situações normais da existência humana, como a vivência da tristeza em situações específicas e pontuais.
De outro lado, quando se equipara equivocadamente a depressão à tristeza, o risco é de um tratamento inadequado ou mesmo a falta dele.
Tristeza não é doença
Ainda que se trate de uma emoção desagradável, que provoca desconforto e dor, a verdade é que, assim como as demais emoções, a tristeza faz parte da vida.
Para começar esta conversa e como mote para reflexão, tomo emprestado um poema de Fernando Pessoa, que diz:

Evidentemente, muitas são as possibilidades de interpretação de um poema.
Então, peço licença para interpretá-lo a meu modo, como uma metáfora das nossas emoções. A alegria, representada pela felicidade e a tristeza, pela infelicidade, vistas como diferentes “paisagens” no percurso dos nossos cotidianos ou das nossas vidas.
E o poeta trata as emoções de tristeza e alegria com a naturalidade de quem sabe que vai encontrá-las no caminho, como parte da paisagem.
De fato, a tristeza faz parte de nossas vidas, em certos momentos, e tem sua função e seu papel. Disso não há como fugir.
Ela é uma emoção básica frente a uma insatisfação, frustração ou perda.
A morte de uma pessoa querida, a perda de um emprego, o rompimento de um relacionamento amoroso, a reprovação em um exame são exemplos de situações nas quais a tristeza é esperada.
Assim como as demais emoções básicas, a tristeza tem papel importante para nossa proteção, adaptação e sobrevivência.
Tentativas de esconder a tristeza
Às vezes, tentamos esconder a tristeza. Isso é familiar para você?
Na nossa sociedade, é comum a tristeza ser negada ou camuflada. Há uma tentativa constante de aparentar felicidade.
Vemos isso acontecer com frequência, por exemplo, nas redes sociais. É só dar uma espiadinha no Instagram, por exemplo.
Parece quase uma “competição” para saber quem é – ou aparenta ser – mais feliz.
De forma realista, é preciso lembrar que a tristeza também faz parte da vida em determinados momentos. E aceitar isso é saudável.
Saudável porque aceitar as próprias emoções é sempre melhor que negá-las ou escondê-las.
Falar sobre a tristeza, senti-la e enfrentá-la não é tarefa das mais fáceis.
Contudo, é uma atitude honesta consigo mesmo.
Elaborar a tristeza permite a aceitação de que algumas situações não vão bem e, em alguns casos, precisam ser mudadas.
Mas, então, como saber quando a tristeza deixa de ser uma emoção esperada frente a determinadas situações e precisa de maior atenção?
Depressão: para além da tristeza
Um dos sinais de alerta ocorre quando a tristeza (e outros sintomas associados) passa a comprometer as atividades cotidianas. Por exemplo, o trabalho, os estudos, os cuidados pessoais e a vida familiar.

A própria pessoa ou pessoas de sua convivência costumam perceber a diferença sobre o que ela fazia antes e deixou de fazer ou sobre o que lhe dava prazer em fazer e que agora não consegue mais sentir satisfação.
Outro sinal de alerta ocorre quando a intensidade ou duração do sentimento de tristeza se mostra desproporcional ao ocorrido ou se estende temporalmente para além do evento ou ainda quando a tristeza acarreta pensamentos e comportamentos prejudiciais à própria pessoa ou a outras.
Nestes casos, a tristeza pode ser, na verdade, um sintoma de depressão e requer uma investigação clínica.
Assim, recomenda-se a consulta a um profissional da saúde (médico da família, psicólogo ou psiquiatra) para avaliação e, quando necessário, tratamento da depressão.
Tristeza como sintoma de depressão
A depressão é um quadro clínico no qual a tristeza é apenas um dos sintomas, dentre um conjunto deles.
Além de sentimento de tristeza na maior parte do tempo, na depressão, estão presentes vários outros sintomas como: insônia ou sono excessivo, alterações no apetite, sentimento de culpa ou menos valia, perda ou diminuição do prazer, falta de perspectivas sobre o futuro.
No diagnóstico de depressão, a tristeza não aparece isolada, mas num conjunto de outros sintomas que estão presentes ao mesmo tempo e com duração significativa.
Infelizmente, ainda há desconhecimento ou informação equivocada sobre a depressão. Vemos falas como “depressão é preguiça” ou “depressão é falta do que fazer”.
Além do sofrimento psicológico, as pessoas que sofrem de depressão muitas vezes lidam com um sofrimento adicional, o do preconceito e estigma social.
Expressões como estas não são em nada empáticas com o sofrimento psicológico e fazem com que a pessoa evite buscar ajuda, pois ela própria pode interiorizar falas como estas, que a distanciam de um pedido legítimo de auxílio profissional.
É tristeza ou depressão? Em resumo…
Embora, na linguagem popular, o termo depressão seja usado muitas vezes como sinônimo de tristeza, tristeza e depressão não são equivalentes.

Enquanto a tristeza é uma de nossas emoções básicas e está presente em nossas vidas como uma reação natural frente a situações de perda ou frustação, e é, portanto, passageira, a depressão é um quadro clínico, um conjunto de vários sintomas, compreendido em sua totalidade e, entre eles, está um sentimento persistente de tristeza.
A importância de se falar a respeito da diferença entre depressão e tristeza reside no fato de que, assim, é possível evitar alguns equívocos.
Um deles se refere a tratar a tristeza, que é uma reação humana natural, como uma doença, algo que precisa de tratamento e até mesmo de medicação.
Mas, a verdade é que, em determinadas situações, não há como fugir da tristeza e, embora cause desconforto, faz parte da vida.
Em nossa condição humana, estamos sujeitos a ela, assim como também estamos sujeitos a demais emoções como a alegria, a raiva e o medo.
No extremo oposto, outro engano se refere a tratar a depressão como tristeza.
Neste caso, corre-se o risco de que as pessoas que sofrem com a depressão adiem ou nem cheguem a receber tratamento adequado, pelo fato de se minimizar suas consequências ou pela não identificação dos demais sintomas que, no caso da depressão, acompanham a tristeza persistente.
Na dúvida, se notar que a tristeza começa a comprometer sua vida, suas atividades, seus relacionamentos, seu interesse e prazer em realizar suas tarefas cotidianas, procure ajuda profissional para uma avaliação.
Olá! A psicoterapia é um processo colaborativo, em que juntos, terapeuta e consultante trabalham no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis para lidar com as situações. A principal ferramenta é a fala e o próprio encontro, presencial ou online, que oferece um ambiente de acolhimento, escuta e reflexão.
Seja bem-vindo(a) e sinta-se acolhido(a)!
Referências:
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Cartilha Medicalizar não é a Solução. São Paulo, 2014.
PESSOA, Fernando. O Guardador de Rebanhos. Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946.